sábado, 28 de fevereiro de 2009

Jackson do Pandeiro


Biografia Jackoson do Pandeiro


É considerado o maior ritmista da história da Música Popular Brasileira e ao lado de Luiz Gonzaga, foi um dos principais responsáveis pela nacionalização de canções nascidas entre o povo nordestino

O paraibano Jackson do Pandeiro foi o maior ritmista da história da música popular brasileira e, ao lado de Luiz Gonzaga, o responsável pela nacionalização de canções nascidas entre o povo nordestino. Pelas cinco gravadoras que passou em 54 anos de carreira artística estão registrados sucessos como Meu enxoval, 17 na corrente, Coco do Norte, O velho gagá, Vou ter um troço, Sebastiana, O canto da Ema e Chiclete com Banana.

A história da sua carreira artística reforça a herança da influência negra na música nordestina - via cocos originários de Alagoas - que lhe permitiram sempre com o auxílio luxuoso de um pandeiro na mão se adaptar aos sincopados sambas cariocas e à música de carnaval em geral.

Dono de um recurso vocal único, ele conseguia dividir seus vocais como nenhum outro cantor na música popular brasileira. Seu maior mérito foi de ter levado toda riqueza dos cantadores de feira livre do Nordeste para o rádio e televisão, enfim para a indústria cultural. Grandes nomes da MPB lhe devotam admiração e já gravaram seus sucessos depois que o Tropicalismo decretou não ser pecado gostar do passado da música brasileira, principalmente, a de raiz nordestina.

O intérprete de uma música brasileira feita para dançar criou um estilo único de cantar. Nascido em Alagoa Grande, Paraíba, 31/08/19, numa família de artistas populares. Sua mãe, Flora Mourão, era cantora e folclorista de Pastoril e o batizou como José Gomes Filho o apelidou de Jack pelo sua semelhança física com um ator norte-americano de filmes de western dos anos 30, Jack Perry.

Começou na verdade, tocando zabumba, para acompanhar a mãe, mas fazia sucesso na região com o instrumento que marcaria sua trajetória: o pandeiro. Com ele, viajou em busca do sucesso. Passou por Campina Grande e João Pessoa onde adotou o pseudômino de “Zé Jack”. Sua busca pelo sucesso o leva a capital pernambucana.

Decide se tornar músico quando ouviu A Jardineira (Benedita Lacerda e Humberto Porto). Trabalhando numa padaria forma uma dupla de brincadeira com José Lacerda, irmão mais velho de Genival Lacerda.

No início da década de 50, ainda em Recife, começa a se apresentar na Rádio Jornal do Comércio onde, por recomendação de um diretor da emissora, adota o nome artístico de Zé do Pandeiro. Tendo chamado a atenção da direção da emissora consegue gravar seu primeiro compacto de 78 rpm. Era o xote Sebastiana que já demonstrava que além de ser o rei do ritmo, Jackson do Pandeiro, iria buscar inovações estéticas dentro da música nordestina. Ele já arriscava nas suas improvisações de vocalizações com tempo variado dentro de uma mesma música.

Torna-se depois de alguns compactos, um verdadeiro sucesso no Nordeste e Norte do país. Os ecos do seu sucesso já começava a chegar no Rio de Janeiro. O xote Forró no Limoeiro foi um sucesso estrondoso e Jackson impunha-se cada vez mais como um artista popular que se pautou pela ousadia numa época de poucos improvisos tupiniquins, vindo a se tornar referência para artistas oriundos da classe popular quanto da classe média brasileira.

No Recife, conhece sua futura esposa, Almira Castilho, uma ex-professora que cantava mambo e dançava rumba Dessa época consegue gravar pela gravadora pernambucana "Mocambo" seu primeiro sucesso: o xaxado Sebastiana de autoria do pernambucano Rosil Cavalcanti.

Jackson e Almira formavam a dupla perfeita. Desde o início se preocupavam com o visual e com as performances de palco. Ela, sensual com um belo jogo de cintura e ele, com toda musicalidade explosão de ritmos e uma voz especial. Almira teve um papel fundamental na vida de Jackson, pois o ensinou a escrever seu nome e o estimulou a expandir sua música além das divisas da Paraíba.

Esta paixão avassaladora os unir e os levou, em 54, ao Rio de Janeiro. A união em casa e no palco durou até o ano de 1967 quando se desfez a dupla e o casamento. A trajetória de Jackson de Pandeiro não registra números de vendagens significativos, nenhuma aventura pelo exterior e muito menos o charme que cerca os ídolos da música popular brasileira.

Antes de mais nada, Jackson do Pandeiro pode bancar a vinda ao Rio de Janeiro com o dinheiro obtido com o compacto do rojão Forró no Limoeiro. Ele queria conhecer os jornalistas que escreviam sobre sua música nos jornais cariocas. Conheceu a maioria deles. Faz ainda algumas apresentações em São Paulo, em boates e em programas de auditório de rádio e tv.

Convidado pelo empresário Vitorio Lattari ele grava alguns compactos. O público sulista se apaixona, então, pela embolada Um a um. Retorna a João Pessoa e grava O xote de Copacabana uma homenagem à Cidade-Maravilhosa que o fascinou. Casa-se em outubro de 54, em João Pessoa, com sua parceira.

Devido a aceitação do público e crítica na sua primeira ida ao Rio de Janeiro, decide, em 55, se mudar definitivamente com a esposa Almira. Se apresenta nas emissoras de rádio, Tupi e Mayrink Veiga, e é contrato pela Rádio Nacional. A partir daí, Jackson do pandeiro começa a transformar o rumo da música nordestina, freqüentando assim como Luiz Gonzaga, o eixo central da indústria cultural do país.

Sucessos atrás de outros

Na sequência, vêm os LPs "Jackson do Pandeiro", "Forró de Jackson", "Os Donos do Ritmo", "A tuba de muié" e "O Cabra da Peste" que coroam o sucesso da dupla Jackson - Almira dentro da música popular brasileira. Um dos seus maiores sucesso foi o samba Chiclete com Banana que demonstra uma visão cosmopolita da música brasileira, pois a composição de Jackson e Gordurinha tem uma letra de concepção antropofágica em defesa da música nacional: "quero ver o Tio Sam, numa batucada brasileira".

Os sucessos se repetem nas AMs de todo Brasil: o arrasta-pé Casaca de Couro; o xamêgo Forró na gafieira; o baião A cantiga do sapo; os cocos O Falso Toureiro e Cajueiro. A parceria com Gordurinha gerou outra pérola do cancioneiro popular: o samba-coco Meu enxoval.

Demonstrando que o forró acompanhava a história do país absorvida pelo imaginário popular, Jackson do pandeiro grava o forró de Edgar Ferreira, Ele disse, baseado na carta-testamento do ex-presidente Getúlio Vargas.

A aula de sofisticacção da música de raiz nordestina de Jackson do Pandeiro continou no balanço de Capoeira mata um, no forró de autoria da esposa, Forró Quentinho, e no baião Bodocongó de autoria de Humberto Teixeira e Cícero Nunes.

No final dos anos 60, a dupla vai perdendo espaço na mídia, principalmente, devido ao fenômeno da Jovem Guarda. Em decorrência de desavenças amorosas na relação de Jackson com Almira, a dupla se desfaz em 67. Nos anos subsequentes, Jackson cai numa espécie de ostracismo artístico, fruto do fim do relacionamentro e das mudanças no mercado fonográfico nacional. Em menos de dois anos, se apaixona por Neusa da Silva e passa a viver com ela até o resto de sua vida.

A redescoberta pela Tropicália

Com o advento da Tropicália e seu resgate da música nordestina Gilberto Gil regrava, em 72, e faz sucesso com Chiclete com Banana gravado no álbum "Expresso 222". Na faixa-título desse álbum fica evidente a influência de Jackson do Pandeiro na contrução rítmica e vocal da música. Anos depois, ele regravaria ainda O Canto da Ema e A Cantiga do Sapo. Gal Costa regrava Sebastiana e o cantor e compositor Alceu Valença o chama em 72 para defender em dupla com o coco-elétrico Papagaio do Futuro. Um público jovem de classe média universitária começa a se interessar pela música de Jackson do Pandeiro.

Reestimulado pelo apoio, Jackson do Pandeiro volta a gravar, em 72, pela CBS e lança outro álbum primoroso: "Sina de Cigarra". Os destaques para a faixa-título e o primeiro rojão gravado, Catirina, do compositor alagoano Jararaca e O Puxa Saco de Zé Catacra. Também, a malemolência do samba carioca na divisão de voz de Jackson em Chico Chora de autoria de Bezerra da Silva -Ataylor de Souza e Paulo Filho. Dois anos depois, ele grava pela o álbum "Se tem mulher to lá" da gravadora Chantecler que consegue alcançar projeção nas rádios AMs.

Nos anos seguintes, continua a fazer shows perlo Brasil afora, mas tem seu nome artístico ligado mais à sazonalidade das festas juninas do que ao mercado de MPB, apesar do reconhecimento da crítica especializada. Lança ainda nos anos 70, os LPs "Um nordestino alegre" e "Nossas raízes", mas já não tem a mesma projeção nacional dos anos 50.

Último álbum e morte na "estrada"

Em 81, grava pela Polygram seu último trabalho: "Isso é que é forró" que traz um Jackson do pandeiro exibindo música forrozeira em Quem tem um não tem nenhum e sambas sincopados, como o Competente demais de sua autoria. O último disco contou com a presença do conjunto Borborema com produção de Armando Pittigliani que respeitou os arranjos concebidos por jackson do pandeiro.

No ano seguinte, durante excursão empreendida pelo país, Jackson do Pandeiro que era diabético desde os anos 60, morreu, aos 62 anos, no dia 10/07, em Brasília, em decorrência de complicações de embolia pulmonar e cerebral. Ele tinha participado de um show na cidade uma semana antes e no dia seguinte passou mal no aeroporto antes de embarcvar para o Rio de Janeiro. Ele ficou internado na Casa de Saúde Santa Lúcia. Foi enterrado em 11/07 no cemitério do Cajú no Rio de Janeiro com apresença de músicos e compositores popoulares, sem a presença de nenhum medalhão da MPB.

O futuro dam carreira parecia se reabrir, pois a Ariola queria fazer um disco dele com participações com nomes da MPB, como Alceu Valenca, Moraes Moreira e Elba Ramalho. Não houve tempo para o reencontro de Jackson do Pandeiro com o sucesso e com uma outra geração de fãs.

Homenagens e reconhecimento póstumos

Um ano após a morte de Jackson, foi realizada em São Paulo a Mostra "30 anos de Rojão" que reuniu fotos, filmes e shows em homenagem a Jackson do Pandeiro. O evento contou com a participação de Zé Keti, Mineirinho, Odair Cabeça de Poeta, Paulinho Boca de Cantor, Edgar Ferreira.

O paraibano
Jackson do Pandeiro é escolhido para ser o artsita homenageado na Décima-Primeira edição do Prêmio Sharp que foi realizado em 13 de maio de 97. A nata da MPB prestou tributo a Jackson do Pandeiro em interpreatações ou em regravações. A lista de nomes é grande e não para a cada ano de crescer: Alceu Valença, Gilberto Gil, Gal Costa, Lenine, João Bosco, Paralamas do Sucesso, Geraldo Azevedo, Genival Lacerda, Zé ramalho, Tom Zé, Cascabulho, Chico César, Leila Pinheiro e Chico Buarque.

"Costumo sempre dizer que o Gonzagão é o Pelé da música e o Jackson, o Garrincha."
— Alceu Valença

Fonte básica:
www.facom.ufba.br/pexsites/musicanordestina

Nenhum comentário:

Postar um comentário