domingo, 1 de fevereiro de 2009

Carmina Burana


O códice encontrado em Benediktbeuern continha poemas dos monges e eruditos errantes — os goliardos —, quase todos escritos em latim medieval, exceto 47 versos, escritos em médio-alto alemão vernacular e vestígios de frâncico. Um estudioso de dialetos, Johann Andreas Schmeller, publicou a coleção em 1847, dando-lhe o título de “Carmina Burana”, que, em latim, significa “Canções de Benediktbeuern”.
Acredita-se que todos os poemas fossem destinados ao canto mas os copistas responsáveis pelo manuscrito, nele não indicaram a música de todos os carmes, de modo que só foi possível reconstruir o andamento melódico de 47 deles. O códex é subdividido em seis partes:
-Carmina moralia et satirica (1-55), de caráter satírico e moral;
-Carmina veris et amoris (56-186), cantos primaveris e de amor;
-Carmina lusorum et potatorum (187-228), cantos orgiásticos e festivos;
-Carmina divina, de conteúdo moralístico-sacro (parte que provavelmente foi adicionada já no início do século XIV).
-Ludi, jogos religiosos.
-Supplementum, suplemento com diferentes versões dos carmina.
Os textos são muito diferentes entre si e mostram a diversidade da produção goliardesca. Se, de um lado, há os conhecidos hinos orgiásticos, as canções de amor de alto conteúdo erótico e as paródias blasfemas da liturgia, de outro emergem a recusa moralística da riqueza e a veemente condenação à Cúria Romana, por ser voltada apenas à busca do poder. Assim diz o carme n°. 10:
A morte agora reina sobre os prelados que não querem administrar os sacramentos sem obter recompensas (...) São ladrões, não apóstolos, e destróem a lei do Senhor.
E o carme n°. 11:
Sobre a terra nestes tempos, o dinheiro é rei absoluto (...) A venal cúria papal é cada vez mais ávida dele. Ele impera nas celas dos abades e a multidão de priores, com as suas capas negras, só a ele louva.
Os versos mostram que os chamados clerici vagantes não se dedicavam somente ao vício, mas mas que se inseriam entre os adversários do crescente mundanismo da Igreja e da conformação monárquica do Papado, ao mesmo tempo que defendiam uma ideologia progressista, distante da clausura da vida monástica.
Além disso, a variedade de conteúdos do manuscrito é também indiscutivelmente atribuída ao fato de que os vários carmina tenham autores diferentes, cada um com seu próprio caráter, as próprias inclinações e provavelmente a própria ideologia, não se tratando de um movimento cultural literário compacto e homogêneo no sentido moderno do termo.
Os textos originais são entremeados por notas morais e didáticas, como se usava no primeiro Medievo, e a variedade dos assuntos - especialmente de natureza religiosa e amorosa, mas também profana e licenciosa - e de línguas adotadas, expressa o estilo de vida e o pensamento dos autores, os clerici vagantes ou goliardos, que costumavam deslocar-se pelas várias universidades européias nascentes, assimilando-lhes o espírito mais concreto e terreno.

A Cantata

O compositor alemão Carl Orff musicou alguns dos Carmina Burana, compondo uma cantata homônima. Com o subtítulo "Cantiones profanae cantoribus et choris cantandae", a obra, por suas características, pode ser definida também como uma "cantata cênica". Estreou em junho de 1937, em Frankfurt e faz parte da trilogia "Trionfi" que Orff compôs em diferentes períodos, e que compreende os "Catulli carmina" (1943) e o "Trionfo di Afrodite" (1952).
A cantata é emoldurada por um símbolo da Antigüidade — a roda da fortuna, eternamente girando, trazendo alternadamente boa e má sorte. É uma parábola da vida humana exposta a constante mudança, mas não apresenta uma trama precisa.
Orff optou por compor uma música inteiramente nova, embora no manuscrito original existissem alguns traços musicais para alguns trechos. Requer três solistas (um soprano, um tenor e um barítono), dois coros (um dos quais de vozes brancas), pantomimos, bailarinos e uma grande orquestra (Orff compôs também uma segunda versão, na qual a orquestra é substituída por dois pianos e percussão).
A obra é estruturada em prólogo e duas partes. No prólogo há uma invocação à deusa Fortuna na qual desfilam vários personagens emblemáticos dos vários destinos individuais. Na primeira parte se celebra o encontro do Homem com a Natureza, particularmente o despertar da primavera - "Veris laeta facies" ou a alegria da primavera. Na segunda, "In taberna", preponderam os cantos goliardescos que celebram as maravilhas do vinho e do amor(“Amor volat undique”), culminando com o coro de glorificação da bela jovem ("Ave, formosissima"). No final, repete-se o coro de invocação à Fortuna ("O Fortuna, velut luna”).

Carmina Burana - O Fortuna, Imperatrix Mundi

  • Em Latim Em Português brasileiro
  • O Fortuna, *Ó Fortuna,
  • Velut Luna
    *És como a Lua
  • Statu variabilis, *Mutável,
  • Semper crescis *Sempre aumentas
  • Aut decrescis; *Ou diminuis;
  • Vita detestabilis *A detestável vida
  • Nunc obdurat * Ora oprime
  • Et tunc * E ora cura
  • Ludo mentis aciem, * Para brincar com a mente;
  • Egestatem, * Miséria,
  • Potestatem * Poder,
  • Dissolvit ut glaciem. *Ela os funde como gelo.

  • Sors immanis * Sorte imensa
  • Et inanis, *E vazia,
  • Rota tu volubilis * Tu, roda volúvel
  • Status malus, * És má,
  • Vana salus *Vã é a felicidade
  • Semper dissolubilis, *Sempre dissolúvel,
  • Obumbrata Nebulosa
  • Et velata E velada
  • Michi quoque niteris; Também a mim contagias;
  • Nunc per ludum Agora por brincadeira
  • Dorsum nudum O dorso nu
  • Fero tui sceleris. Entrego à tua perversidade.

  • Sors salutis A sorte na saúde
  • Et virtutis E virtude
  • Michi nunc contraria Agora me é contrária.
  • Est affectus
  • Et defectus E tira
  • Semper in angaria. Mantendo sempre escravizado
  • Hac in hora Nesta hora
  • Sine mora Sem demora
  • Corde pulsum tangite; Tange a corda vibrante;
  • Quod per sortem Porque a sorte
  • Sternit fortem, Abate o forte,
  • Mecum omnes plangite! Chorai todos comigo!

*Caramba...quando criança pensava que Carmina Burana fosse um maestro indiano!!!

**Caramba dois...influenciou musical,muitas bandas!!

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