segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Blitz

A Blitz certamente foi uma das bandas pioneiras do rock brasileiro nos anos 80. O grupo primava por misturar estilos como new-wave, black, rock sessentista, humor, histórias em quadrinhos e rádio sob um prisma pop. O septeto foi formado no Rio de Janeiro em 1980 por Evandro Mesquita, Fernanda Abreu e Márcia Bulcão (vocais), Ricardo Barreto (guitarra), William ‘Billy’ Forghieri (teclados), Antônio Pedro (baixo) e Lobão (bateria).Dois anos após a origem, veio a primeira gravação do conjunto. O compacto “Você não Soube me Amar” foi lançado em julho de 1982 e apresentava uma banda que, apesar de absolutamente desconhecida, estava entrando pela porta da frente. Com um rock leve e letras bem-humoradas, a Blitz foi conquistando cada vez mais fãs, até o lançamento de “As Aventuras da Blitz 1”.Confirmando a popularidade crescente do grupo, a Blitz também participou da ilustre coletânea “Rock Voador”, que reunia bandas que tocavam na Rádio Fluminense FM e no Circo Voador, famosa casa de shows do Rio de Janeiro, como Kid Abelha, Barão Vermelho e Lulu Santos.Mais de um milhão de cópias vendidas depois, a banda lançava em 1983 o disco “Rádio-Atividade”. O álbum apresentava a Blitz bem mais comercializada e infantil do que no primeiro disco - um dos fatores que levaram o baterista-fundador Lobão a se afastar do conjunto, cedendo lugar a Juba, que gravou o trabalho. À época, foram lançados produtos como revistas em quadrinhos e álbuns de figurinha levando o nome da banda, em parte devido à grande popularidade do grupo entre as crianças.1984 foi ano de “Blitz 3”. Com presença marcante de sintetizadores, o LP não repetiu o sucesso dos álbuns anteriores. A faixa “Egotrip” causou certa polêmica, devido às acusações de plágio relacionadas à música “Eu Me Amo”, do Ultraje A Rigor. A banda fez ainda vários shows, inclusive se apresentando na primeira edição do festival Rock In Rio, de 1985.Depois do terceiro LP, a banda se desfez em 1986, voltando a se reunir ocasionalmente para shows ou eventos. Fernanda Abreu seguiu uma bem-sucedida carreira solo e Evandro Mesquita se firmou como ator. Pouco tempo depois, foi lançado “Todas as Aventuras da Blitz”, coletânea com os maiores sucessos da banda.Em 1995 a EMI lançou “Blitz ao Vivo” e dois anos depois alguns ex-integrantes se reuniram e gravaram o CD “Línguas”, que contou com a produção de Jim Gaines - ganhador de quatro Grammys.De lá para cá, a Blitz foi reativada várias vezes, com outros integrantes, para shows e discos - o mais recente é “Últimas Notícias”, de 1999 - mas nunca com o sucesso de outrora. Hoje, a banda se reúne apenas para alguns shows, sempre com público cativo.
O período do rock nacional que Arthur Dapieve costuma chamar de BRock está completando 20 anos. Assim como a maioria dos grandes nomes da MPB nasceram em 1942 - Caetano, Gil, Milton, Tim Maia - o ano de 1982 foi marcado pelo renascimento para sempre do rock brasileiro, a época em que o rock nacional começou a ser visto como fenômeno viável para artistas, empresários e gravadoras. Alguns discos importantes datam dessa época, como a coletânea Rock Voador, que reunia bandas que tocavam na Rádio Fluminense FM e no Circo Voador (os dois também frutos de 1982, por sinal), Cena de Cinema, de Lobão, Tempos Modernos, de Lulu Santos, Barão Vermelho e As Aventuras da Blitz, primeiro verdadeiro sucesso do BRock. A EMI, ex-gravadora da Blitz, está recolocando nas lojas os primeiros discos da banda, lançados entre 1982 e 1984, As Aventuras da Blitz, Radio-Atividade e Blitz 3. Mesmo com Evandro Mesquita passando quase todo o ano na telinha (fazendo a novela Desejos de Mulher, da Globo) e Fernanda Abreu trilhando uma prolífica carreira dedicada à fusão samba-funk-disco, o aniversário de 20 anos dos primeiros lançamentos do grupo foi pouco lembrado durante 2002. Antes de serem o fenômeno viável que foram - na verdade o primeiro grande fenômeno vindo do pop-rock nos anos 80 -, Evandro (vocais), Fernanda Abreu, Márcia Bulcão (vocais), Ricardo Barreto (guitarra), William Forghieri (teclados), Antônio Pedro (baixo) e Lobão (bateria - trocado depois por Juba) foram responsáveis por apresentar o rock nacional à modernidade. Longe das heranças prog e hard dos anos 70 (ironicamente, Antônio Pedro, o baixista, havia tocado na fase progressiva dos Mutantes), o negócio da Blitz era misturar caracteres new-wave, sons black, rock sessentista, humor de teatro infantil, histórias em quadrinhos e rádio, sob um prisma pop. Essa mistura esteve a toda prova no primeiro single da Blitz, Você Não Soube Me Amar, lançado em julho de 1982. O disquinho - que trazia a faixa principal no lado A e Evandro berrando "nada, nada, nada, nada!" no lado B - mostrava um grupo absolutamente desconhecido entrando pela porta da frente: até o selo usado pela gravadora era aquele amarelo, que aparecia nos discos de Simone, Gonzaguinha, Milton, etc. Quando o clipe da música foi parar no Fantástico, então, já era tarde - o rock brasileiro já havia chegado lá. Além dos velhos ídolos, poderiam haver outros, e foi o que acabou acontecendo. Se hoje Herbert Vianna, Renato Russo, Humberto Gessinger, Lobão e Cazuza têm o respeito que têm, a Blitz, de certa forma, criou a infra-estrutura para que isso ocorresse - e seu humor ferino pavimentou o caminho para que surgisse o rock espontâneo de Raimundos, Charlie Brown Jr., CPM 22, Mamonas, etc. A banda Autoramas, oriunda dos anos 90, reconheceu isso e até regravou o primeiro hit-single da Blitz no CD Vida Real. O LP As Aventuras da Blitz, lançado dois meses depois, oferecia rocks com cara de anos 60 (O Beijo da Mulher Aranha, De Manhã, Vítima do Amor), samba-funk (Vai Vai Love)... sem falar no R&B esperto de Você Não Soube Me Amar. Trazia ainda o charme das duas músicas riscadas devido à ação da censura, Cruel Cruel, Esquizofrenético Bues e Ela Quer Morar Comigo na Lua. Cem mil cópias depois, a banda já era do primeiro time, e o disco Radio-Atividade, lançado em 1983, escancarava isso. Lançado com embalagem luxuosa - capa dupla, encarte separado, arte detalhada, etc - o disco flagrava a Blitz bem mais comercializada e infantil do que no primeiro disco (algo que, pelo que consta, afastou o baterista-fundador Lobão). O segundo LP emplacou bem mais sucessos - Betty Frígida, Weekend, Ridícula e, em especial, a gozadora A Dois Passos do Paraíso, com a célebre leitura da carta da "Mariposa apaxonada de Guadalupe". Há quem diga que o supremo pecado da Blitz foi ter, neste disco, mexido no bau do rock pré-Jovem Guarda: a banda regravou, aparentemente por sugestão da gravadora, Biquini de Bolinha Amarelinho, numa versão que chafurdava na obviedade. Por volta dessa época, o público infantil da banda era imenso. 1984 foi ano de Blitz 3, último disco da primeira fase da banda. Lançado com capa em versão vermelha, branca e amarela, o LP é tido como sendo fraco. Exagero: músicas como Eugênio, Egotrip (envolvida em acusações de plágio de Eu Me Amo, do Ultraje A Rigor), o blues carnavalista Cresci, Mamãe Cresci, Dali de Salvador e Taxi são muito legais, embora já mostrem cansaço. A banda ainda daria vários outros shows, se apresentaria no Rock In Rio I, de 1985 e, no ano seguinte, lançaria sua última gravação: Malandro Agulha, incluída apenas na trilha do remake de Selva de Pedra da Globo. De lá para cá, a Blitz foi reativada várias vezes, com outros integrantes, para shows e discos - o mais recente é Últimas Notícias, de 1999 - mas nunca logrou muito sucesso. Responsáveis por encerrar em parte o carma anti-comercial e bandido (ao extremo) que o rock tinha no Brasil, a Blitz costuma ser pouco lembrada e mesmo seus discos são relançados só de vez em quando, muitas vezes em projetos especiais - como a série Portfolio, da EMI, que reeditava discos com capas de LPs miniaturizadas. Estranho que isso ocorra com uma banda que foi tão bem sucedida - e que acabou antes que cometesse o pecado de deixar uma herança vazia, com discos burocráticos e shows constragedores, como acontece com tantas bandas pelo mundo afora. Além do relançamento dos discos da Blitz, livros recentes como Até Parece uma Festa (biografia dos Titâs, escrita por Hérica Marmo e Luiz André Alzer), Dias de Luta (de Ricardo Alexandre), a exposição A imagem do som do rock-pop brasileiro (que mostra a visão de vários artistas plásticos sobre músicas de rock nacional e pode ser vista no Paço Imperial, no Rio), e shows de bandas como Fullgás e Perdidos na Selva, que têm repertório baseado em anos 80, servem para comemorar os vinte anos do grande levante do rock nacional - pelo menos no que diz respeito ao seu aparecimento na mídia. Um aniversário que poderia ter sido comemorado até mais intensamente. Se hoje Herbert Vianna é um compositor gravado por Gal Costa e Nana Caymmi, se bandas como Raimundos, Rodox e Los Hermanos não são olhadas com estranhamento, se festivais de rock aparecem por todo o Brasil, esses 20 anos de BRock têm culpa nisso. E como.

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